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TESOUROS DO MUNDO




A missão que Alain Dudley tinha pela frente era extremamente exigente; exigente e espinhosa. Era precisamente nesse ponto que confluíam todas as suas dúvidas e receios, sem saber se iria ter força para conseguir estar à altura da responsabilidade que colocavam agora sobre os seus ombros.“ Devolver ao mundo os seus tesouros.”Dito desta forma… poderia ser entendido como redutor da realidade; sobretudo nesta altura em que se sentia cego pela ambição, para não falar da confiança ora depositada na sua pessoa que era tremenda; que era nada mais nada menos que dar corpo a um sonho que muitos diriam ser impossível de concretizar… liderar uma equipa multidisciplinar que iria dar corpo e criar o museu dos museus: o grande Museu Internacional de Arte Humana de Nova Iorque. Há anos que sonhava com este projecto, praticamente desde os seus tempos de estudante. Recorda esse dia, como sendo o dia em que a palavra "Arte" passou a fazer verdadeiramente sentido, até na sua vida, especializando-se até se tornar ele próprio numa verdadeira enciclopédia viva, apesar da sua juventude que incomodava sobremaneira os mais velhos.As palavras do orador surgiram poderosas no meio do palco, não deixando ninguém indiferente face à sua argumentação. Vinham da boca d’um homem que apaixonadamente amava as artes e ciências humanas. Imbuído nesse objectivo, questionava a plateia, que, em pequenos acenos com a cabeça lhe transmitiam energias positivas para que continuasse a desenvolver o raciocínio que expunha à plateia douta e egrégia. Questionava a legalidade duvidosa dos grandes Museus Europeus sobre a forma como detinham os tesouros da humanidade tratando-os como se fossem seus, reflectido sobre a necessidade de conseguir um dia devolve-los a todos aos países onde foram criados, para não dizer "roubados". Cáustico deu alguns exemplos, com particular ênfase ao Louvre detendo mais de trezentas mil obras de arte, mostrando ao público apenas uma pequena parte do vasto espólio; deu como exemplo as verdadeiras pilhagens que exploradores Franceses fizeram no último século em terras Egípcias.




- Meus senhores a maior parte de vós que estais nessa plateia, sofre de um eterno equívoco, uma espécie de metamerismo congénito; aqui dentro dirão que o meu casaco é castanho, mas se forem lá para fora, se forem lá fora muitos dirão que afinal ele é verde; afinal em que ficamos, quem terá razão? Meus amigos França tem mais peças guardadas nos seus museus que o somatório de todas as peças existentes no Cairo e arredores. Por isso questiono, acham essa situação aceitável? Muitos de vós nem terão pensado em tal coisa.
Olhou para a plateia que se mexia incomodada tentando perceber onde aquele homem queria chegar com aquela conversa, comportava-se como uma esponja, absorvendo cada palavra que escutara. O orador sentiu que os tinha na mão definitivamente, o silencio era sepulcral depois do ligeiro burburinho, por isso continuou:
- Outros exemplos… poderia dar-vos, que ilustrassem com clareza o caminho que vai da Ignorância pura e dura à néscia cognitiva.
O orador sentiu desta vez, por instantes, uma certa agitação como se uma brisa tivesse entrado na sala, provavelmente não o entenderam o que acabou de dizer; porém, sem se limitar prosseguiu mudando de registo:



- Poderei falar-vos de Londres se não vos antepuserdes; a bela cidade de Londres por exemplo, tem mais peças da Grécia antiga que Atenas…, lá apenas deixaram ficar as colunas… por serem demasiado compridas para que as pudessem transportar sem se partirem…se isso é aceitável então teremos muito que conversar. Meus senhores e minhas senhoras na minha humilde opinião, aceitável é um dia conseguirem que se devolva “o seu a seu dono” devolvam-se os originais e exponham-se as cópias em seu lugar. É uma fraude ir-se a determinados locais para se conhecer um pouco mais de história se fique com a sensação de que foi viagem em vão, valia mais terem ido logo, aos locais que referenciei, seria porventura mais proveitoso, o que não deixa de ser uma estranha perversão, não acham?
A plateia escutou estarrecida esta interrogação; decididamente constatava-se que não tinham pensado em tal coisa. Escutaram aquele homem que preferira palavras quase irracionais que apelavam ao instinto que existe no fundo de cada ser humano, a plateia continuou calada quase amorfa até que um jovem levantou-se e bateu as primeiras palmas que fizeram eco, perante uma assistência apática como que adormecida, o jovem não esmoreceu contaminando-a progressivamente toda a sala que segundos encontrava-se de pé tributando-lhe numa enorme ovação que lhe deu motivação para continuar com mais afinco na sua dissertação, agora já com novos exemplos para os levar para onde queria, percorrendo o triunvirato que vai do fixismo passando por uma espécie de transformismo para acabar em evolucionismo, prosseguindo:
- A esmagadora maioria dos museus do mundo ainda não conseguiram adaptar-se a esta nova realidade , a esta evolução natural que é estar ao serviço das pessoas do presente e das suas causas e deixarem de ser um repositório de coisas mortas










Texto inédito do novo romance "O coleccionador de segredos".

4 comentários:

JAIRCLOPES disse...

Limerique

Os europeus fizeram grandes viagens
Em nome do progresso as pilhagens
Tornou-se vítima a arte
Trazida como estandarte
Tudo era roubo com outras roupagens.

Ineifran Varão disse...

Mais um belo texto, caro poeta. Abraços

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Obrigado amigo Jair, infelizmente tenho que concordar consigo e dou comigo a pensar muitas vezes nisto.

Abraço

Emília Pinto disse...

Li com atenção este texto e lembrei do que vi na Grécia; de facto só lá estão colunas e montes de pedras por todo o lado. Impressionante!!! De facto, seria muito mais importante tratarmos do presente e conservar os monumentos históricos de cada país lá mesmo; para isso seria necessário que se fossem restaurando para não se deteriorarem com o passar dos anos. Seria muito mais interessante a visita à Acrópole grega se estivesse menos destruída. Um bom fim de semana, amigo e obrigada pelo interessante texto.
Emília