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Contador de visitas

contador de visitas

Um pequeno conto

Um cheirinho a saudade do campo e de como é bom ser criança...

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Dois dias no campo

Estavamos em pleno verão, e tal como havia prometido, chegara finalmente o dia escolhido em que eu iria mostrar a quinta, aos meus sobrinhos mais pequenos, bom não seriam bem sobrinhos eram mais primos em segundo grau, filhos do meu primo, mas como sempre os tratei por meus sobrinhos, assim iriam continuar sendo.
Estavam naturalmente entusiasmados com a promessa que lhes fizera duas semanas atrás, tudo isto depois de ter escutado uma conversa entre eles, na última vez que lhes fiz uma visita lá a casa e ouvi algo que me aguçou a curiosidade porque discutiam qual era a proveniência dos ovos, a mais nova afirmava a pés juntos que vinham do supermercado, embalados em caixas de meia dúzia de papelão tal como vinha o leite ou os iogurtes. Tive que intervir na conversa e expliquei-lhes a origem animal desses produtos, embora a Joaninha que era a mais nova, me parecesse que tivesse ficado pouco convencida com as minhas teorias. Depois disto nada mais havia a fazer de que tirar um belo fim-de-semana e levar a pequenada para tirar a limpo o que lhes acabava de expor e ver os animais na quinta onde cresci.

.Pobres crianças da cidade certamente uma grande maioria nunca viram um pintainho amarelo, a não ser em desenhos animados quanto mais uma simples galinha ao vivo e não imaginam o real tamanho de uma vaca leiteira, e por certo nunca tiveram sequer a mais pequena oportunidade de sentir a liberdade, os pés descalços na erva fresca do campo, sentir a mais simples emoção, poder correr livremente no prado onde ovelhas e cabras pastam ou então correram atrás de uma vara de porcos para dar alguma emoção á coisa, já que eles tranquilamente ignoram quem passa, procurando por entre a erva seca bolotas caídas ou então se deixam ficar indolentes esperando que o calor abrande aproveitando a sombra de um sobreiro.

Seis da manhã ainda escuro quando passei pela casa deles para os apanhar e já estavam sentados nas escadas de madeira que dão para o jardim esperando, nem dois minutos demoramos a pôr-nos a caminho, tínhamos pela frente ainda umas três horas de estrada.
À medida que nos aproximávamos do local de destino os pequenos iam ficando do cada vez mais impacientes a avaliar pelas perguntas sobre o que iriam encontrar. Já a manhã ia alta quando finalmente chegamos, o sol estava já bem quente pedia uma bebida fresca ou uma sombra e ninguém se fez rogado quando a tia Maria que estava á coca esperando que chegássemos nos ofereceu para fazer um refresco de limão com água fresca da mina que Manuel o caseiro se prontificou a ir buscar á cozinha, pois já estava prontinha á nossa espera para ser servida. Manuel vem com uma bilha de barro, que eu bem conhecia por manter a água sempre bem fresquinha e a tia Maria foi-nos servindo o refrescozinho e todos repetimos com grande sofreguidão e prazer à mistura, parece que começamos bem.

- Podemos ir ver os animais? Gritaram quase em uníssono
- claro que sim esperem um pouco, o Manuel lhes mostra já tudo. Tentando refrear os ânimos pedi calma mas a Tia Maria sabendo bem como são as crianças disse:

-Deixe-os ir menino, eles aqui não tem perigo como muito bem sabem, a mina está tapada, o bode está preso, deixe-os ir…
- Seja! anui, podem ir por ali mas com juízo! Adverti com ar sério.
Não se fizeram rogados e desataram numa enorme e saudável correria, antes que eu pudesse mudar de ideias, sorri para a tia Maria a quem vi os olhos brilharem de tanta alegria por nos ter ali na sua casa e também porque era sem duvida um prazer fantástico ver crianças a correr há quantos anos isso tinha acabado, lembrando tempos antigos, tempos em que aquela bela casa tinha vida, meus pais a tia Maria o tio Joaquim o caseiro, os filhos do caseiro, eu e os meus primos eram os irmãos que nunca tive, filhos do tio José irmão da minha mãe, que morreu quando eu era pequeno com a febre-amarela, apesar disso fomos sempre uma grande família, crescemos e sonhamos e foram esses sonhos que fizeram com que o portão se abrisse e um a um nos visse partir em busca de algo mais que ali não teríamos e nem um único ficou para desgosto dos pais que viram os filhos partir. As lembranças são boas e fazem parte da vida e esta bela casa significa todas as coisas boas e belas que sempre tivemos, em cada retrato em cada móvel, nas pessoas que ainda temos e que significam muito.
O passar dos anos e com a perda dos pais cada vez se tornaram mais escassas as visitas á sua quinta e era sempre muito bom estar de volta, e todos os pretextos eram bons para estar de volta. Ao fundo ouvia os gritos de alegria dos sobrinhos que se afastavam, sorri envolto por pensamentos vários, era bom estar de volta, daqui a nada iria ter com eles mas primeiro tinha que dar um abraço ao meu tio Joaquim, devia andar por perto e há algum tempo não o via, depois da perda de seu pai ele passou a ser a sua referencia e ouvia sempre com grande prazer o que este lhe dizia. Não foi preciso esperar muito, pois ele parecia um cão perdigueiro com faro e vinha já ao meu encontro com um sorriso rasgado no rosto entrando pelo quarto dentro onde eu sentado na cama olhava os campos da saudade como um belo quadro pendurado.

Depois de matar saudades dos familiares, pediu à tia mais um copo do seu delicioso refresco que lhe soube que nem canja. Tudo se encontrava no lugar de sempre o seu quarto já preparado para o receber assim como os quartos para as crianças, iriam ter dois dias diferentes nas suas vidas, sem internet, jogos e consolas, tudo seria diferente do que estão habituados, ouviriam o galo pela manhã, qual despertador chamando para mais um dia de encantamento por esta vida simples e pura.

Parou um pouco impondo a si mesmo silencio tentando escutar por onde andavam os meninos, não os ouvia dali, mas continuava tranquilo já que o Manuel se encarregou de os acompanhar, aliás como sempre fez consigo quando era pequeno e bem traquina por sinal.

O tio Joaquim aguardava para por alguns assuntos em dia, aproveitando as raras visitas que eu fazia a casa, não precisava de forma alguma de preocupar-me. Tudo se encontrava devidamente conservado, tal como no tempo dos meus pais, e é sempre com prazer redobrado que abro a porta do quarto do meu pai e vejo tudo tal e qual era antigamente, é uma emoção de difícil de descrever. Nem sei se por vezes não seria melhor voltar a página e tocar a vida para a frente e deixar o passado calmamente lá atrás.
Até o velhinho chapéu continua lá juntamente com os papéis que o meu pai deixou.
Despertei das minhas memórias algumas dolorosas já que as saudades chegam cada vez que os nossos olhos vêm as imensas fotos espalhadas por toda a casa onde se destaca a professora Lisete contratada para ensinar piano às crianças, mas curiosamente ninguém mostrou grande talento musical, preferindo antes andar a cavalo em vez de ficarmos tardes inteiras aprendendo musica, mesmo assim o dono da casa fez questão que ela por ali permanecesse acabando por ficar ano após ano na casa alternando as tarefas de professora musical com as tarefas bem mais exigentes de governanta… mas era fantástico quando ela nas horas de menores afazeres passava o tempo, a tocar piano na sala grande, tocando aquele magnifico piano que ninguém tocava e que num certo dia natal vieram entregar lá a casa, lembro bem esse dia, ter um piano em casa não era coisa pouca.

Ouvi passos apressados, as crianças corriam novamente chamando por mim, e assim me vi arrancado às memórias que me invadiam a cada momento
- Tio mostra-nos o teu quarto, o Sr. Manuel diz que está igualzinho desde o tempo em que vivias cá.

- Depois do almoço, então joaninha já viste as galinhas?
- Sim tio, e vi também uma com uma coroa vermelha…
- Com uma coroa vermelha! Retorqui - Com uma crista vermelha isso sim queres tu dizer, deve ser um galo, com certeza.
- Pois era tio, eu já me esquecia… respondeu com vos meiga a sobrinha.
- Viste o Vasco?
- O Vasco! Quem é o Vasco, tio?
- Não me digas que o Manuel não te apresentou o Vasco, isso é uma falha grave. O Vasco é o meu cavalinho de estimação, logo ides ver o que é andar pela quinta a cavalo nele, é um animal muito calmo e muito fixe, logo vereis, deixa-me ver, deve haver por aí uma foto dele, olhem venham cá meninos, temos por aqui umas quantas fotos antigas e do Vasco também deve estar por aí algures talvez no meu quarto, vamos lá ver.

Olhem meninos ali esta ele todo reguila e bem contente ora digam lá se não…
- Fixe, fixe, fixe…
Gritaram em coro também queremos andar, podemos ir já tio
- Não agora não, temos outras coisas interessantes para ver venham daí, vamos lá abaixo à cozinha ver se encontramos lá uma chouriça para assarmos em aguardente e álcool receita cá do vosso tio num assador de barro que eu sei que tenho por lá escondido num armário nada melhor para abrir o apetite. Precisamos apenas de arranjar umas coisas, vamos ver o que por aqui se arranja.

O prazer de cirandar por aquele mágico local era bem patente em todo o grupo que tão qual um trupe circense ruidosamente marcavam a sua presença, bem apreciada pelos rostos quase esfuziantes dos mais velhos que rapidamente providenciaram todos os ingredientes necessários sem esquecer uma bela broa de milho feita de fresco cozida no forno a lenha lá de casa.
Através duma passagem semi-secreta por onde antigamente os criados se deslocavam sem subir pela escadaria principal da casa, uma escada em caracol estreita em pedra sem resguardos já com visível desgaste causado pelo uso e pelo tempo, e por onde antigamente eu me escapava para poder dar umas fugidinhas até aos animais sem que o pai ou a mãe me vissem, confidenciava o tio aos seus sobrinhos estes pequenos segredos de infância, continuando na sua dissertação que era tudo feito com a conivência e cumplicidade da boa Lisete que sempre o houveram protegido contra os rigores paternais.

Chegaram finalmente à cozinha de baixo onde ainda existe a mesa onde antigamente comiam os trabalhadores á jorna, eu sempre adorei comer ali sentado no banco corrido bem cumprido e beber água fresquinha dos potes de barro, e comer broa acabadinha de fazer que sempre havia ali guardada numa caixa a que chamávamos masseira, lá se guardava farinhas e fermentos e pão que sobrava.

- Tio quem era esta senhora que esta nesta foto?

- Era a minha avó quando era ainda nova…



- Era bonita!
- Sim muito bonita, pena não se ver bem o rosto.

- Venham cá ver isto… Venham cá ver isto… Pipas enormes e garrafas velhas, tantas… oh tio anda cá rapido!
- Espera um pouco nós já vamos ver isso tudo, agora não posso ir temos que preparar aqui um petisco para comermos depois vemos isso tudo.
- Venham venham que espectaculo, não podem perder isto…
Não houve alternativa tivemos mesmo que ir ter com o Miguel que euforico não parava de falar não nos deixando sucegados .



- Oh tio ele quer que a gente vá ter com ele porque tem fubia de teias de aranha.
Todos riram, por ali era o que mais havia e como não queria dar parte de fraco, ai fazendo barulho para na tentativa de que o aconpanhassemos já que não queria perder nada e gostava muito das máquinas e utensilios do campo e não queria de forma alguma perder as explicações que por certo lhe daria.
- Uma coisa de cada vez, primeiro vamos comer esta bela chouriça assada e depois vamos ver o alambique, e os espremedores de graínha os lagares e tudo o resto
- Oh Miguel deixa isso agora, anda mas é comer este petisco.
- Não sei se gosto? Gostas gostas…
Comido o aperitivo, não houve alternativa do que ir ver o que Miguel tinha descoberto na sala ao lado…

Uma porta velha de madeira dava para uma enorme sala arejada onde se podiam encontrar todo o tipo de máquinaria, umas mais antigas que outras desde a velhinha máquina de debulhar, ceifar e arados de lavrar, sementes varias , palhas a secar para dar alimento aos animais no inverno, um sem fim de utilidades que fazem o dia a dia do campo.. Uma quantidade enorme de perguntas sobre isto sobre aquilo, para que serve havia algumas que nem eu proprio soube responder, valeu-me o Manuel que se manteve por perto enquanto eu tratei de afastar pois o tio Joaquim me esperava na entrada da porta, ficando de longe observando enquanto trocava imperções com ele, de vez em quando ia mandando de longe uma ou outra recomendaçãopara que não se magoassem, já que isso seria o mais facil para quem não está ambientado com este tipo de ferramentas ou máquinas pode magoar-se e lá se ia o prazer do dia passado no campo.

Curiosidades satizfeitas ou mais ou menos, a manhã estava quase passada e um cheirinho a carne assada no forno de lenha, invadiu o espaço pondo toda a gente com o nariz no ar. Breve a Tia Maria iria fazer jus aos seus dotes culinarios com um petisco que ela ao longo dos anos foi naturalmente aperfeiçoando e que fazia normalmente as delicias dos seus escassos visitantes que ia desde galo assado, peru ou então um cabrito sem engeitar uma vitelinha, claro que desde que o numero de visitas assim o justificassem, ou houvesse então alguma cunha metida na cozinha, para matar um desejo.

Hoje não houve pedidos especiais e não sei porquê mas acho que vou para a primeira hipótese, o aroma que vinha era sem divida o melhor convite. Daqui a nada saberemos qual a ementa que nos esperava, logo que fossem convocados para participar no repasto.

Parece mesmo que alguém me leu os pensamentos pois passados poucos segundo ouvimos nitidamente a voz dela chamando todos para a mesa.
Lavar as mãos primeiro avisei eu… Há ali uma casa de banho, com cuidado para ninguém tropeçar nessas pedras mais salientes.
Sem mais demoras todos se sentaram impacientes aguardando a chegada da assadeira que não tardou a chegar.
A tarde prometia, tinhamos muito que fazer, na tentativa de resguardar os sobrinhos um pouco ao calor que se sentia, levei-os para o meu antigo quarto e passamos um bom pedaço de tempo vendo fotografia da familia, mas não foi tarefa facil já que todos queriam ir conhecer o Vasco.

… A aventura continua…
Texto retirado de trabalho em fase de criação sendo pura ficção, todas as fotografias são de minha autoria, feitas em Setembro de 2009 e trabalhadas de forma a parecerem antigas.

5 comentários:

Paula Raposo disse...

Gostei de ler esta visita à quinta.
Beijos.

chica disse...

Imagino como vai ficar esse teu trabalho. Esse conto ficou lindo e as imagens bem trabalhadas pareciam referir-se à cena mesmo. Lindo! abraços,chica

Francisco disse...

Meu amigo!
Ficção, mas próxima demais da realidade.
Simplesmente emocionante, sem falar nas fotos!
Obrigado por suas palavras lá no meu blog. Fiquei feliz.
Aos poucos estou retomando meu velho estilo, ao contar de forma descontraída fatos do cotidiano.
Um grande abraço!

Carlos Manuel Ribeiro disse...

E fez muito bem. As crianças mais "urbanas" quando soltas por uma quinta ficam encantadas com tantas novidades e, curiosas como são, colocam muitas questões...

Gostei dessa visita pela quinta, em particular, as fotos antigas, de outros tempos, tempos em que o tempo corria bem mais devagar...

Que saudades...

Abraço amigo,
CR/de

Parapeito disse...

Gostei.
Pensava que nao era ficçao.
Acordei lembranças que guardo num cantinho da alma de quando era criança..e depois tambem eu tive uma tia Maria :)
Um momento bonito.
Brisas mansas